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O Brexit será “soft” ou “hard”? - E o que deveria ser feito

Amanhã, a primeira-ministra britânica Theresa May fará um discurso apresentando sua visão sobre a saída da Grã-Bretanha da União Europeia. É esperado que May apresente detalhes da estratégia do governo para negociar com Bruxelas a saída do Reino Unido da União Europeia.

Minha aposta é que ela irá optar por aquilo que está sendo chamado de "hard" Brexit: o Reino Unido não apenas sairá do mercado único europeu (que permite o livre movimento de pessoas, de bens e serviços) como também sairá da união aduaneira (que permite o livre comércio de bens e serviços entre os países europeus, mas impõe uma mesma tarifa de importação para todos os bens e serviços oriundos dos países de fora da União Europeia).

A atual união aduaneira impede legalmente o Reino Unido de fazer acordos comerciais individuais e independentes em relação à União Europeia. O Reino Unido precisa da aprovação de Bruxelas e do consenso dos outros países para poder firmar acordos comerciais com países de fora do bloco.

Se o Reino Unido se livrar dos grilhões impostos pela união aduaneira, há uma grande probabilidade de o país querer fazer acordos comerciais individuais e benéficos com outros países da Europa, com os EUA e com o resto do mundo.

A meu ver, a saída do mercado único europeu já está decidida. O referendo foi uma clara declaração de que o povo quer ter o controle sobre as fronteiras do Reino Unido e rever sua política de imigração.

Quanto ao comércio de bens e serviços, o Reino Unido deveria, de maneira unilateral, conceder à União Europeia o "melhor acordo" possível (na visão da UE), que seria o total e irrestrito acesso ao mercado do Reino Unido, como ocorre hoje. Incidentalmente, este seria também o melhor acordo para o Reino Unido, pois manterá a competitividade das indústrias do Reino ao mesmo tempo em que ajuda a manter baixos os preços na economia britânica. Há também o benefício para a UE de que isso será uma manutenção do status quo: nada terá de ser alterado.

(Isso, enfatizo, é o que eu acredito que o governo do Reino Unido deveria fazer, mas dificilmente irá fazer.)

O problema é que a União Europeia já declarou oficialmente que, em represália ao Brexit, não irá conceder ao Reino Unido total e completo acesso aos países da União Europeia. Isso seria tanto uma punição pelo seu "mau comportamento" quanto uma forma de "enviar uma mensagem" a futuros países que porventura queiram se assanhar a fazer o mesmo. Por mais míope e infantil que pareça, esse é o curso das ações que a UE está prestes a tomar.

Mas isso poderá mudar num futuro próximo. Poucos anos após ter lutado uma guerra sangrenta contra a Inglaterra nos anos 1770, os EUA deram uma guinada radical em relação aos ingleses e iniciaram uma das mais longas e mais bem-sucedidas alianças de todos os tempos. Isso poderá se repetir agora, no médio prazo, com EUA e Inglaterra refazendo uma nova aliança.

Boas cercas criam bons vizinhos.

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Leia também:

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Na questão do "Brexit", tanto os defensores da "saída" quanto os da "permanência" deveriam relaxar

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autor

Helio Beltrão
é o presidente do Instituto Mises Brasil.

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comentários (12)

  • Rafael  16/01/2017 23:39
    Sobre a UE, embora eu seja libertário, confesso que teria votado contra a saída se eu fosse britânico.

    E o motivo é simples.

    Sim, há inúmeras desvantagens, estorvos, empecilhos e burocracias estúpidas em se permanecer dentro da União Europeia. Porém, há uma -- uma só -- vantagem. E essa vantagem é tão positiva, que me faria votar pelo "remain" se eu fosse britânico: a UE não permite que malucos populistas cheguem ao poder. E, caso um chegue, ele imediatamente se ajoelha e passa a rezar pela cartilha

    Veja só o caso do Syriza. Tsipras foi eleito com discurso chavista e latindo como um buldogue. Tão logo assumiu o poder, foi chamado na chincha, parou de latir, se ajoelhou e hoje é um mero poodle. Adotou medidas de austeridade ainda mais rigorosas que as anteriores que ele combatia.

    No caso específico do Reino Unido, caso um chavista fanático como o líder do Partido Trabalhista Jeremy Corbyn chegue ao poder, creia-me: estar na UE seria menos trágico do que fora.

    O Reino Unido fora da UE com um Tory no poder é uma coisa. O Reino Unido fora da UE com um Corbyn no poder, ah, aí sim haveria uma nova definição para pesadelo.
  • Realista  17/01/2017 00:18
    Isso não tem nada a ver com estar ou não estar na UE. Este fenômeno que você descreveu acontece somente em países que adotam o euro. E o motivo é simples: qualquer político sabe que sair do euro (ou ser expulso dele) é um suicídio político.
  • Fabio  17/01/2017 02:35
    Rafael,

    Entendo seu posicionamento, porém há de se ressaltar o melhor benefício dessa ruptura: menos burocratas. Por mais que a sua hipótese seja possível, não podemos esquecer que a defesa do . Chavistas podem ate tentar fazer isso, porém estará limitado se a população manter o posicionamento de afastamento de burocratas, podendo partir para mais separações, o que todo chavista odeia, pois ele quer ter um estado maior para maior controle. Entende meu posicionamento? E vê como isso abre uma possibilidade muito mais benéfica que deixar a cargo de uma gestão UE decidir o futuro de uma nação tão distinta culturalmente e etnicamente deles.
  • Pobre Paulista  17/01/2017 15:48
    Só esqueceu que quem manda no Reino Unido é a Rainha Elizabeth, e tão logo apareça um "populista" no governo, ela coloca o fulano pra correr e põe outro no lugar.
  • Tory  17/01/2017 15:53
    Infelizmente ela não tem esse poder. Logo, ela não pode fazer isso.

    Tanto é que quando o Partido Trabalhista estava destruindo país na segunda metade da década de 1970, ela nada pôde fazer.

  • Pobre Paulista  18/01/2017 13:56
    Se informe melhor, a Rainha pode depor o primeiro ministro bastando apenas querer isso. Pode demitir todo o gabinete. Pode até mesmo dissolver o parlamento se quiser.

  • Marcão  18/01/2017 14:11
    Mas, apesar disso, ela NÃO mandou "correr" os populistas trabalhistas...
  • Tulio  18/01/2017 14:13
  • Pobre Paulista  23/01/2017 23:37
    Olha só, não sabia disso.

    Então pra que afinal serve a Rainha? Se ela não manda em nada, grande merda ser Rainha...

    (Pelo visto a única vantagem é não precisar tirar carta de motorista kkkkk)
  • Lucas  16/01/2017 23:45
    Pois é, deveria haver a liberação do comércio, mas isso não irá ocorrer: os políticos defensores do Brexit são nacionalistas e protecionistas até o último fio de cabelo.
  • Manga  16/01/2017 23:47
    A União Européia está encaminhando todos os países rumo ao Socialismo e até os que não são da UE estão se tornando lentamente socialistas.

    Triste.

  • Mario Gonzaguinha Soares da Silva Só  18/01/2017 11:48
    É isso aí.


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