A notícia abaixo viralizou nas redes sociais:
CEO
da maior empresa de educação do Brasil diz como trapaceava consultorias
O
presidente do Grupo Kroton Rodrigo Galindo afirmou, em evento, que, durante o
processo de reestruturação da empresa, quando "precisavam se aperfeiçoar" mesmo
sem recursos para tal, a companhia realizava um processo seletivo de
consultoria, ouvia as ideias apresentadas e, no final, não contratava nenhuma
delas.
O
CEO da maior empresa de educação do Brasil continua dizendo que, mesmo sem
contratar nenhuma das empresas, a Kroton "aprendia muito com o processo".
Ele disse isso para explicar o quanto é importante cercar-se de parceiros
excepcionais que fazem com que sua empresa também se torne excepcional.
Após a disseminação da notícia, Galindo se explicou
em sua página
oficial do Facebook:
Na
semana passada participei de um evento da Endeavor em um bate-papo muito bacana
onde pude reforçar a importância que, acredito, as pessoas têm em uma
organização.
Num
determinado momento, fiz uma brincadeira sobre utilização de serviços de
consultoria e analisando posteriormente, acho que ela foi inadequada.
Eu
me referia a fatos ocorridos há 15 anos. Naquela época não conseguíamos
contratar todos os serviços de consultoria que gostaríamos, então, para alguns
deles, ficávamos no estágio das propostas, mas essas mesmas empresas eram
contratadas para outros projetos. Não se tratava de um expediente para
ludibriar os prestadores de serviço e sempre deixávamos claro que havia o risco
de não fecharmos o contrato. Não havia má fé, nem postura antiética. Esses
profissionais eram nossos parceiros e continuaram sendo por muito tempo.
Desde
que iniciei minhas atividades como gestor, sempre contratei e continuo
contratando serviços de consultoria por entender o valor que esses
profissionais podem agregar. Boa parte dos projetos de sucesso das empresas que
trabalhei foram desenvolvidos por consultorias que foram fundamentais para o
sucesso dessas organizações.
O
objetivo do comentário feito no evento foi apenas o de reforçar a necessidade
de estarmos prontos para aprender em todas as nossas interações.
Revendo
minha fala, concordo que o comentário, feito em tom de brincadeira, foi
inadequado e permitiu uma leitura equivocada
Aos
que justamente criticaram o comentário, deixo minhas desculpas. Aquela fala
definitivamente não representa minha convicção sobre o relacionamento entre
empresas e consultorias.
Rodrigo Galindo fez algo para o qual não há desculpa
nem defesa (como ele próprio reconhece). Tampouco serei eu quem irá defendê-lo.
Mas aproveitarei o gancho para fazer um comentário sobre esse tão pouco
compreendido ramo de consultorias e assessorias financeiras. Há uma falha
conceitual a respeito da "correta remuneração" dessa atividade.
Quem se reúne com um potencial cliente para
apresentar uma proposta (algo que, no jargão técnico, chamamos de 'sales
pitch') entende perfeitamente que há um risco grande de o cliente não fechar,
não gostar, escolher outro provedor, ou simplesmente não fazer nada.
Por isso mesmo, todos os dias milhares de 'sales
pitches' ocorrem gratuitamente. E são tão mais trabalhosos e sofisticados
quanto o tamanho do potencial benefício em um eventual fechamento de contrato.
Durante minha carreira, quando trabalhava em um
banco de investimentos, assessorando empresas em operações de fusão, aquisição e
levantamento de recursos no mercado de capitais, preparei várias centenas
de pitches para fechar uma dúzia
de mandatos. Uma apresentação de pitch podia conter 200 páginas, com ideias
elaboradas, que sempre poderiam ser apropriadas parcial ou integralmente.
Assim funciona o mercado. O fim dos anos 1990,
com o estouro da bolha
das empresas de internet, nos ensinou algo: uma ideia pura vale muito pouco
ou mesmo um redondo zero. Ideias têm custo negligível, e para cada 1.000
ideias voltadas para as empresas de internet, apenas uma fazia algum sentido
mercadológico.
O que realmente vale é o fluxo continuado de boas idéias,
e principalmente sua execução primorosa.
Para uma boa execução, eu pago, você paga, o mercado paga.
Aquele que fez um trabalho de bom grado e, após uma
não-contratação, chia e chora pelo trabalho não-remunerado, exerce tão somente
seu 'jus sperniandi'. Se desejava remuneração por um sales pitch, que cobrasse por isso antecipadamente. É óbvio
que, se assim agisse, estaria fora do processo de contratação, pela força do
costume e convenção do mercado competitivo.
Eis a lição crucial: trabalho, por si só, não
garante venda; e ideia não garante remuneração. A lição é: almeje ser um
bom executor acima de tudo.