Nota do editor:
Nesta abrangente e detalhada entrevista, o jornalista e
documentarista Adalberto Piotto entrevistou o
presidente do IMB, Helio Beltrão, sobre as questões mais prementes hoje na
economia e na cultura brasileira.
Segundo Helio, boa parte da população ainda tem a
mentalidade de que precisamos de burocratas gerenciando nossas vidas por meio
de um estado-babá muito presente na economia.
Ainda predomina a mentalidade de que um burocrata sentado em Brasília,
munido de uma caneta, é capaz de saber melhor o que pode funcionar para todos os
indivíduos de todos os cantos do país do que todo o conhecimento que está
disperso pela sociedade dentro da mente da cada indivíduo.
E a consequência dessa tutela é a perda da autonomia, da
liberdade, do dinamismo e da capacidade empreendedorial.
Além disso, e para piorar, há os grupos empresariais e
sindicais de sempre, que estão em um confortável conluio com o poder, e que têm
todo o interesse de manter a atual máquina de Brasília operando intocada.
Helio também fala sobre a indústria do carimbo, que ainda é
muito resiliente. E isso decorre dos
grandes grupos de interesse já encastelados no poder, que ganham com o atual
arranjo de criar dificuldades para vender facilidades. A própria existência de cartórios é boa para
empresas já estabelecidas, pois dificulta o surgimento de novos concorrentes. Será
muito difícil mudar isso se ainda tivermos a mentalidade de que precisamos
desse tipo de controle.
Ao passo que na Suécia e nos EUA qualquer um pode autorizar
e registrar uma cópia — nos EUA, o notário público normalmente é um farmacêutico
—, aqui no Brasil a mentalidade cartorial segue firma a despeito de todo o avanço
tecnológico já vivenciado pelo mundo.
Para resolver o atual descalabro, não basta apenas "colocarmos
um dos nossos em Brasília". Mesmo que um
genuíno libertário assuma a presidência, se a mentalidade da população ainda
for estatista, nenhuma reforma poderá ser feita. Não haverá clamor popular por tais reformas.
Uma analogia que, segundo Helio, retrata bem esse problema,
seria a de tentar infiltrar uma pessoa boa e honrada no PCC (Primeiro Comando
da Capital) com o intuito de tornar aquela quadrilha uma organização de pessoas
boas e decentes.
O que irá acontecer, nesse caso, é que, ou essa pessoa boa
irá se corromper e irá se tornar mais um membro da quadrilha, ou ela
simplesmente pedirá para sair.
Com o estado, o raciocínio é o mesmo. O estado tem a sua própria lógica — a lógica
de manter o poder, de usar verbas para proveito da máquina, de fazer acordos de favorecimento a
grupos de interesse — e essa lógica só poderá ser mudada de fora para dentro,
por meio de mudanças na mentalidade da população.
Sobre a questão dos programas sociais, Helio afirma que há alternativas
não-estatais que funcionariam de maneira muito mais eficaz. Se, em vez de ter seu dinheiro confiscado por
impostos, você tivesse a opção de doar seu dinheiro para ONGs auditadas pelo
mercado, você muito provavelmente escolheria uma ONG cuja auditoria
independente revelasse que 95% do dinheiro doado realmente chega a quem precisa
(ao contrário do modelo estatal, em que 95% é desviado e vai parar nos bolsos
de que não precisa), e provavelmente você escolheria uma ONG que trabalha na
sua comunidade, de modo que você passaria a ter mais responsabilidade e mais
poder de fiscalização e cobrança.
Portanto, mesmo na questão da rede social, há alternativas não-estatais
que trazem de volta a questão de responsabilidade individual. É muito mais importante devolver ao cidadão a
responsabilidade por resolver os problemas sociais do que deixar tudo nas mãos de
Brasília.
Embora a entrevista seja relativamente longa (29 minutos),
esta é sem dúvida uma das melhores e mais completas exposições dos ideais do
livre mercado, do voluntarismo e de livre cooperação entre os indivíduos. E o entrevistador é extremamente
competente. Vale muito a pena.
Feito em 2015, o vídeo foi produzido pela Fecomércio-SP como parte do projeto Um Brasil.