quinta-feira, 30 0aio 2013
O
Japão virou novamente notícia na semana passada. Desta vez, pela espetacular
queda de mais de 7% do índice Nikkei em um único dia. Ainda que expressiva, é
praticamente um leve soluço quando observamos a alta de mais de 70% nos últimos
12 meses.
E
não é somente a Bolsa nipônica que traça uma trajetória de alta; investidores
ao redor do globo vêm testemunhando uma forte subida no preço das ações como há
muito tempo não se via.
Em Hong Kong, o índice Hang
Seng ainda está longe de voltar ao patamar de 2007, mas está perto de seu maior
nível desde o estouro da crise financeira, e apresenta uma alta de 21% no
último ano. Ainda na Ásia, o principal índice do mercado bursátil da Índia está
prestes a superar o pico histórico de 2007. Na Oceania, o índice S&P ASX,
que engloba as ações de empresas australianas, já bateu os 5.000 pontos, o topo
máximo dos últimos quatro anos e uma alta de quase 25% em 12 meses.

Fonte:
Bloomberg
Bolsa do Japão
Fonte: Tradingeconomics.com
Enquanto
isso, na Europa, o índice DAX, da Alemanha, atingiu a máxima histórica ao
superar os 8.500 pontos no dia 22 de maio (veja o gráfico abaixo). Isso
representa uma alta de mais de 30% no acumulado dos últimos 12 meses. Nada mal
para um país que pouco tem crescido e segue altamente exposto aos países
problemáticos da União Europeia.
Fonte:
Tradingeconomics.com
E
o que dizer do Reino Unido? Os bretões encontram-se em meio uma forte crise,
sua economia está estagnada e Estado, quebrado; ainda assim, o FTSE 100 não
para de subir. Caso persista a tendência de alta, é possível testemunharmos a
maior cotação de sua história, superando o nível de 6.930 pontos alcançados em
dezembro de 1999.
Nem
mesmo o índice da Bolsa francesa fica para trás; ainda que esteja longe de seu
pico histórico, seus ganhos nos últimos 12 meses se aproximam dos 30%. A mesma
análise podemos aplicar à Bolsa espanhola, em que o IBEX 35 permanece distante
do auge da bolha de 2007, mas ainda assim experimenta uma alta de mais de 30%
no último ano. Da mesma forma, as Bolsas austríaca e holandesa estão próximas
dos 30% de ganhos anuais.
Na
Escandinávia, tanto a Bolsa da Suécia quanto a da Noruega e a da Dinamarca
estão bem próximas de bater o nível de 2007. Com relação ao último ano, todas
registram altas superiores a 20%.
Antes
de partirmos para o outro lado do Atlântico, não podemos deixar de destacar o
mercado bursátil suíço. Desde maio de 2012, o índice SMI persegue uma
trajetória ascendente que parece não ter fim, registrando aproximadamente 40%
de crescimento. Não tardará muito para que o recorde histórico de 2007 seja
quebrado.

Fonte:
Bloomberg
Falando
em quebra de recordes, é na América onde as Bolsas recompensam os investidores
que apostaram nesse mercado nos últimos meses. Já é notório o mais alto patamar
de toda a história de ambos os índices Dow Jones e S&P 500. A Bolsa da
Nasdaq, entretanto, ainda não chegou lá, mas trilha o mesmo caminho, superando
a marca de 20% de ganho anual e atingindo a maior cotação desde o estouro da
bolha da internet, em 2000. Enquanto isso, com a exceção da Argentina, a
América Latina parece ser o patinho feio das Bolsas globais no último ano.

Fonte:
Bloomberg
Em
face da realidade dos mercados de ações internacional, poderíamos concluir que
estamos diante de uma forte recuperação econômica ou seria apenas mais um
episódio de bolha especulativa inflada pelos bancos centrais?
Com
parco crescimento econômico no mundo desenvolvido, elevados índices de
desemprego e finanças públicas em desequilíbrio, resta claro que a alta das
ações é fortemente influenciada pelas políticas monetárias expansionistas dos
principais bancos centrais ao redor do mundo.
O
grande experimento dos Ph.D.s no comando dos bancos centrais de países
desenvolvidos tem inflado os ativos financeiros nos quatro cantos do planeta. E
ainda que as commodities estejam em baixa, outros ativos reais também têm
sofrido forte influência da elevada liquidez global, como é o caso do mercado
imobiliário em diversos países da Europa (Suíça e países escandinavos), Canadá,
Austrália e, até certo ponto, o próprio mercado americano.
Nesse
ínterim, os índices (e as expectativas) de inflação de preços ao consumidor não
acendem a luz vermelha. Pelo contrário, tranquilizam os banqueiros centrais de
que suas políticas extraordinárias não têm repercussões negativas neste
momento, nem em um longo horizonte de tempo. Qualquer semelhança com a
"grande moderação" da década passada não é mera coincidência. Não é preciso
lembrar o resultado não intencionado que o excesso de liquidez teve em um
passado nada distante.
E
quando esse grande experimento vai cessar? Difícil dizer. O Federal
Reserve dá sinais altamente ambíguos. Ao passo que suas compras de Treasurys e
ativos imobiliários seguem intactas – expandindo o balanço do Fed em cerca de
US$ 40 bi a cada mês –, o FOMC alerta que elas podem diminuir, ou até mesmo
aumentar, em um futuro próximo. Quando? Dependerá dos dados macroeconômicos.
Na
Europa, o Banco Central Europeu tem, surpreendentemente, reduzido seu balanço.
Mas esse não é o caso do Banco da Inglaterra, muito menos do Banco Nacional da
Suíça (BNS). Este, por sinal, tem levado a cabo uma das maiores expansões
monetárias do mundo desenvolvido. Historicamente tido como benchmark de
retidão monetária, o BNS duplicou o seu balanço nos últimos dois anos a fim de
sustentar o piso de 1,20 franco para cada euro. E como se não fosse suficiente,
seu presidente, Thomas Jordan, tem dito à imprensa que tal piso pode até ser
elevado.
Para
completar a festa, o Banco do Japão parece estar realmente determinado a levar
sua nova política, Abenomics, até as últimas consequências. Em
síntese, os banqueiros centrais devem continuar inflando os ativos financeiros
ao redor do globo.
Como
o investidor deve navegar nessa tormenta é tarefa extremamente complexa. Ainda
que se possa especular e registrar ganhos espetaculares na Bolsa no curto
prazo, é preciso cautela. O tombo é sempre mais rápido que a escalada.
Artigo originalmente publicado em O Ponto Base