quinta-feira, 12 jan 2012
Há poucos dias, o economista Paul Krugman, em artigo publicado em jornal
de São Paulo, fez severas críticas à Escola Austríaca de Economia. Como
presidente do Instituto Mises Brasil, é meu dever apresentar nosso ponto de
vista e contestar algumas afirmações de Krugman. Antes, um pequeno panorama.
A crise de crédito que teve início em 2007 segue afetando os mercados
desenvolvidos, e parece ganhar mais corpo com a crise existencial do euro. Não
obstante as injeções maciças de dinheiro público e o estímulo dos juros baixos
— virtualmente zero — os bancos seguem
com problemas de financiamento.
A artilharia governamental tem tido controverso êxito mesmo após 4 anos.
As economias dos Estados Unidos e da Europa seguem com crescimento pífio,
desemprego alto, e os preços dos ativos não baixaram o suficiente a ponto de
catalisar uma recuperação. O custo das
intervenções é mais tangível: a dívida líquida em relação ao PIB dos EUA, Reino
Unido, França aumentou em mais de 30 pontos percentuais do PIB neste período!
Os depósitos bancários nos bancos sediados nos chamados PIIGS caíram
entre 5 e 10% nos últimos seis meses.
Faz sentido: afinal, em uma Europa ainda integrada, por que permanecer
com dinheiro em um país cujo governo pode transformar a moeda da noite para o
dia em um novo Dracma ou Escudo, e impor um corralito
à la Argentina de Cavallo?
De posse do monopolista status de "emprestador de última instância", o
Fed e o BCE têm sido ainda mais agressivos que os governos para dissipar o
receio de quebra de bancos. Os
metafóricos dinheirodutos para os
bancos por meio do infame quantitative
easing (similar à cruel alimentação forçada dos gansos) já triplicaram a
base monetária nos EUA, e o BCE segue por caminho similar, ainda que mais
comedidamente (um foie gras mais
magro). O custo desta política de
criação de moeda é mais oculto:
a) as
reservas em excesso recém-criadas serão inflacionárias caso se multipliquem em
empréstimos via o multiplicador bancário do livro-texto(veja aqui); e, mais
importante,
b) as
injeções impedem que haja uma saudável e necessária desalavancagem no sistema,
que permite a um custo suportável eliminar os excessos e os falsos lucros
propiciados pelas taxas de juros artificialmente baixas.
As consequências nefastas de se impedir a desalavancagem do sistema são
explicitadas pela Escola Austríaca, e rechaçadas pelo keynesianismo e pela
Escola de Chicago monetarista.
Representantes desses últimos, partes do chamado mainstream, são apegados à uma panacéia de criação de moeda. Um keynesiano, Paul Krugman, incomodado pelos
pífios resultados e altos custos de suas prescrições, partiu para o ataque frontal a Ron Paul,
um candidato republicano, e a Peter Schiff, um gestor de recursos, ambos
simpáticos à Escola Austríaca. Ambos
são exitosos em suas especialidades, mas não são representantes acadêmicos da
Escola Austríaca.
Quanto ao ponto a) acima, Krugman afirma que a preocupação com a
inflação até agora se mostrou infundada, e que isso comprova o erro da Escola
Austríaca. Sim, até agora. Porém, dada a inédita quantidade de reservas
injetadas nos bancos, é razoável supor que se tornem no futuro empréstimos em
multiplicidade, inflacionários portanto.
A ausência de empréstimos multiplicadores até agora em nada contradiz as
lições da Escola Austríaca, ao contrário do que afirma Krugman. Os bancos hoje não
estão confiantes para emprestar.
Quanto ao ponto b), Krugman (bem como keynesianos e monetaristas) advoga
impedir o ajuste do mercado, pois este provocaria uma crise ainda pior. No
entanto, as evidências empíricas comprovam que suas prescrições não têm
funcionado há muito tempo. Em 2001, após
o estouro da bolha da internet, Krugman defendeu um regime de juros baixos para
inflar os preços de imóveis. O resultado
foi uma bolha maior, que ao estourar causou uma crise mais severa. Suas prescrições para a atual crise deixaram
o contribuinte americano mais endividado, e com menos emprego. A política atual remete ao sofrimento do Japão desde
1990. O Japão, inventor do quantitative easing, ainda não venceu a
crise mesmo após vinte anos; e o índice Nikkei, que estava em 39.000 em 1989,
hoje está em 8.300. No longo prazo, o
mercado é mais forte que os desejos dos burocratas.
Os juros baixos atuais são um tipo de heroína financeira. Só visualizaremos a realidade como ela é no
momento da abstinência.