Desde a Segunda Guerra
Mundial até muito recentemente, o Ocidente — especificamente a Europa e os
Estados Unidos — estava progredindo rumo a uma maior centralização, uma maior
integração e uma maior escala de intervencionismo econômico. Porém, esse consenso já dá sinais de estar
entrando em colapso. Na Europa,
o euro, que antes era uma ferramenta de integração, a qual continuamente
adicionava novos membros ao seu círculo, agora enfrenta o prospecto de perder
seus membros mais frágeis. Nos EUA, o
Supercomitê formado pelo Congresso para decidir como seria feito o equilíbrio
do orçamento do governo americano (se por meio de cortes de gastos, ou de
aumento de impostos ou de uma combinação de ambos) oficialmente fracassou em
seu intento, não conseguindo sequer estipular pequenos cortes no orçamento
americano para ao menos tentar estancar um pouco da sangria do déficit
orçamentário.
Este é o começo do
fim. Tanto os EUA quanto a União
Europeia estão politicamente paralisados, aparentemente sendo capazes de fazer
apenas mais acomodações e concessões que envolvam mais gastos, mais
endividamento e mais planejamento central.
Os resultados são totalmente previsíveis para aqueles que conhecem a
lógica do intervencionismo: mais pacotes de socorro gerarão apenas mais risco
moral; menores taxas de juros levarão a um inchaço sem precedentes da dívida,
e, no final, a uma cascata de colapsos sistêmicos — o que levará a mais
pacotes de socorro.
Isso foi confirmado mais
uma vez na quarta-feira
passada, quando os bancos centrais de ambos os lados do Atlântico
anunciaram um maremoto coordenado de criação de mais dinheiro para socorrer o
sistema bancário ocidental mais uma vez.
No momento, o único dinheiro em que você pode confiar é o ouro e a prata, que
já deveriam estar no seu bolso.
Roedores despencando do penhasco
O veneno ministrado pelo
keynesianismo é tão eficaz e extasiante, que os políticos sequer são capazes de
ouvir as soluções de livre mercado.
Pessoalmente, descobri que é quase impossível encontrar um professor ou
um burocrata keynesianos dispostos a debater comigo — ainda que (ou, talvez,
exatamente porque) eu tenha um histórico de previsões econômicas corretas. Seria de se imaginar que pelo menos um deles
estivesse disposto a me explicar por que estou errado... para assim oferecer
alguma desculpa para a sua total incapacidade de prever o estouro da bolha das ações
de internet no início da década de 2000, a formação e o estouro da bolha
imobiliária americana ou qualquer outra coisa que tenha ocorrido após o estouro
desta.
Eis aí apenas uma
ilustração do que nós, como investidores e cidadãos, estamos enfrentando. Os corredores do poder, a mídia e o mundo acadêmico
estão completamente isolados da realidade.
Eles estão apegados às suas teorias com o mesmo desespero que um náufrago
que não sabe nadar se apega a um tronco de árvore — e sempre na esperança de que não acabem tendo de trabalhar para
viver, como fazemos todos nós.
Europa
Repetidas vezes já afirmei
que o simples fato de a Alemanha estar se opondo a novas rodadas de impressão
de euros é o principal argumento a favor
do euro. É óbvio, no entanto, que o
consenso predominante é exatamente o oposto.
As mesmas pessoas que criaram os atuais programas assistencialistas que
as nações ocidentais não mais podem bancar estão agora clamando
para que a União Europeia utilize o poder da impressora de dinheiro para
"ajudar" as falidas Grécia, Itália, Espanha e outras nações. Isso nada mais é do que um imposto secreto
sobre todos aqueles que decidiram, ao longo da vida, poupar seu dinheiro
justamente para sobreviver bem durante tempos turbulentos, e irá levar o euro
ao caminho das ruínas, assim como está acontecendo com o dólar.
Se países como Grécia,
Itália et al. não têm estomago para as medidas de austeridade necessárias para permanecerem no euro, então eles deveriam se retirar do arranjo e ver como o
mercado de títulos irá tratá-los quando eles não mais possuírem o implícito
suporte do resto da Europa. De um jeito
ou de outro, eles terão de enfrentar as consequências impostas pelo mercado em
decorrência de toda a sua prévia gastança.
Infelizmente, com o
anúncio da terça-feira passada de que a União Europeia irá fornecer mais um
pacote de socorro de 10,7 bilhões de euros para Grécia, e o anúncio de
quarta-feira sobre a coordenação dos bancos centrais para socorrer os bancos,
não há nenhum sinal de que os políticos da Europa permitirão que as forças de
mercado corrijam a situação. Em vez
disso, repetidos pacotes de socorro irão apenas assegurar que outras economias
que estão na bancarrota, como Itália ou Portugal, não façam os cortes
necessários a tempo de evitar que elas também precisem receber socorro. E nenhum país, com a possível exceção da
China, pode se dar ao luxo de salvar um país como a Itália.
Portanto, assim como a
retirada brusca de um esparadrapo, os políticos lograram apenas tornar a crise
do euro ainda mais dolorosa ao tentar curá-la.
Isso significa mais riscos e mais volatilidade para investidores, o que
pode fazer com que eles, em revoada, abandonem essa moeda supranacional.
Estados Unidos
Abandonar o euro pode parecer
uma medida prudente e sábia, mas irá se tornar extremamente insensata caso se
decida correr para o dólar. Enfatizo que
a minha preocupação com a Europa é que eles já começaram a seguir o mesmo
caminho que pode levar o continente ao mesmo estado lamentável em que se
encontra os EUA. Se você está preocupado
que a sua geladeira não mais está tão fria quanto costumava ficar, não será
nada inteligente você remover todos os seus perecíveis para uma outra geladeira
que sequer funciona.
Em outras palavras, a atual situação do dólar nada mais é do
que um futuro porém próximo cenário de
pesadelo para o euro: nenhuma importante nação-membro da UE está
prosperando, pacotes de socorro são criados e concedidos sem nenhum debate
significativo, e a oferta monetária está crescendo aceleradamente para cobrir
as dívidas. Na pior das hipóteses, a UE
poderá terminar ou com o euro fragmentado, sendo utilizado apenas pelos países
mais saudáveis do norte da Europa, ou com anos de monetização da dívida, apenas
para tentar "salvar" os PIIGS. Por sua
vez, os EUA já gastaram sua década de
monetização de sua dívida, e agora restou ao país simplesmente aceitar seu
cenário de 'fim de jogo'. Vale lembrar
que a UE pode até estar apoiando o último esquema criado de socorro aos bancos,
mas é o Federal Reserve quem o está coordenando e criando dólares para permitir
essa maquinação.
O fracasso do Supercomitê
do Congresso americano mostra bem o quão ridículo e risível Washington — e,
por conseguinte, o dólar — se tornou. O
Federal Reserve está freneticamente comprando os títulos do Tesouro americano
que são vendidos em leilão com o intuito de compensar a desanimada demanda dos
investidores externos, que não mais estão tão interessados em adquirir dívida
americana. As compras de títulos
públicos pelo Fed estão tão intensas que, brevemente, ele será o dono de 20% de
toda a dívida pendente do Tesouro. Enquanto isso, o Supercomitê fracassou até
mesmo em sua miserável intenção de pelo menos reduzir o crescimento dos gastos a 'meros' US$ 100 bilhões por ano,
algo que sequer faria cócegas no atual déficit anual de US$ 1,5 trilhão — isso
sem mencionar os US$ 15 trilhões em dívidas já acumuladas. Tal fracasso fez com que a agência de
classificação Fitch rebaixasse sua perspectiva de classificação de crédito para
os EUA, potencialmente se juntando, muito em breve, à Standard & Poor's em retirar dos EUA sua classificação AAA.
Talvez
os analistas da Fitch tenham percebido que, caso o Fed pare de comprar os
títulos do Tesouro americano — porque, digamos, a inflação de preços ao
consumidor começou a ficar um tanto alta para continuar sendo ignorada —, o
subsequente aumento dos juros que isso geraria fará com que novos trilhões
sejam adicionados à dívida americana, tornando o calote algo inevitável. Ou talvez eles estejam começando a perceber
que receber o principal em dólares que valem cada vez menos é simplesmente uma
forma um pouco mais disfarçada de calote.
Em
suma, os EUA estarão atolados em uma depressão econômica durante o futuro
próximo, uma vez que não há absolutamente nenhum tipo de reforma sendo
cogitada. Consequentemente, o Fed
continuará imprimindo o máximo possível para tentar mascarar os problemas. Isso tudo gera um cenário tremendamente
pessimista para o dólar, mesmo que o euro perca a adesão de alguns
estados-membros pouco expressivos.
Quem pode, ri por
último
Essa arraigada tradição
de recorrer ao dólar em épocas de incerteza, algo que jogou os preços dos
metais preciosos em uma montanha russa nos últimos meses, está sendo
temporariamente aditivada pela manipulação do mercado que está sendo feita pelo
Fed. Investidores e governos estrangeiros
estavam vendendo seus dólares e seus títulos públicos americanos antes de a
mais nova intervenção do Fed ter enviado sinais confusos. Ato contínuo, testemunhamos uma curta corrida
ao dólar; porém, com o recente anúncio da coordenação dos bancos centrais na
última quarta-feira, o dólar retomou a sua tendência de queda. No geral, essa tendência permanece: o Fed irá
continuar comprando quantias cada vez maiores da dívida americana até que todo
esse dinheiro criado comece a gerar inflação de preços de dois dígitos.
Portanto, em um mundo em
que as duas principais moedas de reserva internacional estão capengas, qual
ativo irá se tornar a nova base para o comércio internacional e para a poupança
pessoal?
Uma análise histórica
revela inúmeros períodos de desvalorização monetária e comportamentos de manada
sendo seguidos por um retorno a valores mais fundamentais. Ao longo da história, toda civilização bem
sucedida baseou-se em uma moeda sólida para prosperar, e sempre na forma de um
metal precioso. Com a globalização,
vivemos em um mundo no qual investidores não mais têm de conviver com as
escolhas ignaras feitas pelos seus respectivos governos. Alocar uma fatia do seu portfólio em metais
preciosos significa poder se sentar em uma arquibancada e ficar à distância, só
observando e dando gargalhadas do pastelão produzido pelas intervenções governamentais
criadas com o propósito de corrigir os efeitos negativos de intervenções
anteriores. Significa saber que, sempre
que mais dinheiro for criado, seus metais irão simplesmente subir de preço.
Essa é a solução suprema
para a atual crise. Cada vez mais
bancos, instituições e investidores irão simplesmente se retirar desse sistema
monetário de papel-moeda fiduciário e recorrer aos metais preciosos para formar
seus ativos de reserva. À medida que
eles forem fazendo isso, o sistema fiduciário ficará cada vez mais fraco e
nocivo para aqueles que ficarem pra trás.
Após esse período de incerteza, um novo consenso certamente será criado,
e a valorização de 24% ocorrida somente este ano indica que o ouro poderá
desempenhar um papel central neste novo arranjo.