Depois que escrevi o artigo
Ciência Sombria?
Ciência Feliz!, fui questionado sobre o que um estudante interessado em
economia deve fazer. Se ele deve
ingressar em uma faculdade de economia ou não, se ele deve seguir carreira
acadêmica ou não, se deve estudar por conta própria ou seguir conselhos alheios,
entre vários outros questionamentos.
Tempos atrás, escrevi sobre a missão do Instituto Mises
Brasil e tratei de um esboço que apelidei de UMB (Universidade Mises Brasil),
e resumi ali algumas ideias sobre alunos serem autodidatas em economia com o
ferramental (livros, cursos, artigos) disponível no site do IMB e do Mises
Institute.
Anteriormente já havia sido publicada no site uma
perspectiva mais completa no artigo do Walter Block,
no qual ele estimula os alunos a se tornarem economistas e adquirirem seu Ph.D.
para seguir a carreira acadêmica.
O artigo de Block já é completo, mas eu seria mais radical:
minha recomendação se limita a uma graduação apenas em matemática ou
estatística (Block sugere ambas, economia e matemática). Entretanto, uma vez que sabemos que a boa
ciência econômica não carece de modelos matemáticos, e que Ação Humana,
o monumental livro de Mises, não tem uma só equação em suas mil e tantas
páginas, o leitor pode estranhar por que sugiro uma graduação em matemática. Mas justifico o porquê
disso.
A primeira razão para sugerir a graduação em matemática é
para o aluno que pretende seguir carreira acadêmica, mesmo que seja em economia. Pois para um mestrado ou
doutorado, tanto no Brasil quanto no exterior, a carga em matemática é
pesadíssima e um graduado em matemática pode tirar de letra o conhecimento numérico
exigido nos cursos de pós-graduação em economia. Como é muito difícil
conseguir uma vaga no mestrado sem apresentar uma tese que carregue toneladas
de equações e cálculos, aquele que quiser seguir carreira acadêmica terá de
suportar o período de tortura ao qual será submetido no mestrado, além de defender
uma tese "não austríaca". Durante esse período,
ele terá engolir muitos sapos caso queira seguir em frente. É o grande sacrifício exigido para ser um
acadêmico.
Por outro lado, esse sacrifício pode render bons frutos: o
economista austríaco que se graduar em matemática nunca será vitima daqueles
que apelam para esse recurso para se valer de algum argumento. Poderá desmoronar empulhações daqueles que
utilizam esse ferramental para iludir os demais com mais facilidade.
A segunda razão é como ferramenta de trabalho para uma área
que muitos dos que escolhem o curso de economia pensam em trilhar: cargos no
mercado financeiro, nas finanças empresariais. O leitor mais atento dirá que Peter Schiff e
Jim Rogers utilizam economia austríaca e isso é o que faz a diferença para
eles. Certo, aceito o argumento. Porém, habilidade
com números nunca atrapalhou ninguém no mercado financeiro, e um graduado em
matemática vê a matemática financeira como brincadeira de criança. Se um estudante de economia imagina que
bancos, corretoras e empresas do setor financeiro divulgam suas ofertas de
emprego apenas no mural de estágios de suas faculdades, sugiro a eles irem até
o mural da faculdade de matemática ou de engenharia (de produção
principalmente). A oferta ali é
igualmente grande, senão maior.
Em uma mesa de operações do mercado financeiro, o iniciante
irá se deparar com centenas de planilhas e cálculos financeiros que podem
intimidar. Mais ainda: que irão exigir
mais preparo justamente de quem não tem habilidades matemáticas.
Resolvida a questão matemática, vem outra pergunta: como
aprender sobre Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos, epistemologia, reservas fracionárias,
utilidade marginal, teoria do empreendedor, história do pensamento econômico, economia
do setor público etc? A resposta é direta e reta: www.mises.org.br. Não há nenhum lugar comparável para se tornar
um economista de fato como o Instituto Mises Brasil. O estudante sério e dedicado encontra no site
livros gratuitos, artigos e vídeos, participa de debates e tira suas dúvidas
nos comentários.
O importante é que, concomitante à graduação sugerida de
matemática, o estudante se dedique de forma intensiva ao estudo da Escola
Austríaca, crie uma disciplina sistemática para a leitura dos livros e principalmente
dos artigos, faça resumos e anotações. É
o conhecimento da Escola Austríaca que tornará o estudante um economista. A graduação em matemática irá apenas habilitá-lo
a um posto acadêmico ou profissional, simplesmente porque vivemos na era do
diploma, em que o conhecimento é menos importante que um certificado.
O
aluno dedicado que iniciar agora verá que nem todos os livros da escola
austríaca estão disponíveis em português; porém, assim como o IMB, o Mises Intitute disponibiliza todos online. Não há livro que você queira ler que não o encontre
na íntegra no site do instituto americano. Isso fará também com que o aluno se dedique a aprender
outro idioma, o que é muito importante culturalmente e profissionalmente. Eventualmente esse aluno fará cursos extras
disponíveis na Mises University, que
são imersões de uma ou duas semanas.
Caso
tenha disponibilidade e quiser fugir de um "mestrado em economia mainstream", o aluno ainda tem a opção
de ir à Espanha fazer o mestrado com Jesús
de Huerta de Soto, ou à Guatemala, na Universidad Francisco Marroquin, que
tem currículos puramente voltados à escola austríaca, ou à França, em Angers, e
estudar sob a orientação de Jörg
Guido Hülsmann. São as únicas opções
que conheço.
Quer
ser acadêmico? Mãos à obra.