Luiz Inácio Lula da Silva foi uma das maiores referências
da esquerda mundial durante as últimas décadas: sindicalista de boa oratória,
líder de movimentos grevistas, candidato à presidência do Brasil pelo Partido
dos Trabalhadores desde 1989, presidente do país desde 2003, e criador, junto
com Fidel Castro em 1990, do Foro de São Paulo,
a plataforma política supranacional alternativa a uma União Soviética em franco
desmoronamento e que, por já estar se esfacelando, já não conseguia enviar
recursos e nem fazer apoio organizacional e propagandístico aos partidos de
esquerda da região.
Em suma, Lula foi um dos pilares históricos da reconstrução
da hegemonia socialista dentro da América Latina, comparável em relevância somente
a Fidel Castro e a Hugo Chávez.
Daí a admiração quase reverencial que lhe foi
concedida por boa parte da esquerda mundial ao político brasileiro. Falando mais especificamente sobre a esquerda
aqui da Espanha, vale recordar os parabéns que lhe foi dado por Pedro
Sánchez [secretário-geral do Partido
Socialista Operário Espanhol] há apenas um ano, exaltando
a "boa política" implantada no Brasil desde sua presidência.
Ou ainda, e de maneira muito mais significativa,
vale recordar as palavras de Íñigo Errejón
[porta-voz do Podemos,
o partido de extrema-esquerda da Espanha], vangloriando-se
de que "Lula comparou o Podemos ao Partido dos Trabalhadores em seu começo. Uma honra!".
No entanto, a realidade tratou de mostrar que Lula
era apenas mais um político hiper-corrupto que utilizou dinheiro público para
se enriquecer à custa de seus compatriotas.
Lula não era "um ex-presidente que governou para a sua gente e para um
país mais justo", segundo disse
há alguns meses Pablo Iglesias
[secretário-geral do Podemos],
mas sim o chefão de uma máfia que desviou
dinheiro da gigantesca empresa estatal -- sim, estatal -- Petrobras para
pagar propinas, privilegiar empreiteiras com contratos altamente lucrativos e,
principalmente, para financiar campanhas políticas do seu partido. Toda uma casta política foi beneficiada por
esse esquema, e no vértice dessa casta política estava esse esquerdista
exemplar chamado Lula.
Nesse esquema, as empreiteiras superfaturavam os
preços de suas obras, a Petrobras pagava o valor superfaturado para as
empreiteiras, e estas, em troca, remetiam uma fatia desse dinheiro
superfaturado (oriundo da própria Petrobras) para políticos de partidos da base
aliada do governo, entre eles o PT, como forma de agradecimento pelo
superfaturamento (dentre esses agrados, compras de sítios e apartamentos). Isso destruiu o capital da estatal e, como uma das conseqüências,
obrigou a empresa a elevar o preço da gasolina a níveis recordes, justamente em
um momento em que o preço do petróleo está em mínimas históricas.
Em sua essência, o esquema da Petrobras nada mais é
do que um esquema de exploração parasitária dos cidadãos brasileiros. Certamente,
foi inspirado naquela outra referência socialista latino-americana: estatal petrolífera
venezuelana PDVSA. Daí a paixão de políticos
por empresas estatais.
Ao final, é provável que a corrupção não siga
ideologias políticas, e que declarações como as de Alberto Garzón [o chefão
que tenta aglutinar todos os partidos de extrema-esquerda da Espanha], que proclamou que "para mim,
uma pessoa que rouba, um delinquente, não pode ser de esquerda" não passam de
pura propaganda.
A corrupção estatal, por
sua vez, está estritamente vinculada ao excesso de poder político. Está diretamente ligada à quantidade de
recursos concentrados
nas mãos de políticos e burocratas. Se
o objetivo é reduzir a corrupção, então é totalmente contraditório defender
mais poderes ao estado. Se o objetivo é
reduzir a corrupção, então não se deve dar amplos poderes a nenhum político,
seja ele de esquerda ou de direita. Com efeito,
não se deve dar poderes políticos a ninguém.
Lula sempre defendeu um estado grande. Ele muito provavelmente fazia isso com grande conhecimento de causa. E é por isso que não necessitamos de
mais estado, mas sim de muito menos.